Friday, June 29, 2007

Crônica dos 23

07/01/2007

Tudo passa muito rápido. Sem perceber você está caminhando, falando as primeiras e tudo que importa são os doces e as brincadeiras inocentes de crianças. Mais um pouco e as brincadeiras começam a ganhar um pouco de seriedade e a personalidade começa a ser formada no colégio.

Bons tempos que inocentemente não percerbemos a importância. O único pensamento é libertar-se logo daquela “prisão”. E tão intenso, mais uma fase passa sem percebermos. E então que começam as grandes mudanças.

Com 17 ou 18 anos você é obrigado a escolher o caminho que deve seguir para o resto da vida. Mais quatro ou cinco anos de experiências imensuráveis que culmina com o momento único da graduação. Profissional formado e diplomado, e agora o que vem pela frente?

Já passei muito tempo esperando o momento de quebrar as correntes e declarar independência. Para alguns, o tão esperado amadurecimento vem aos 18. Existem outros que passam dos 30 e continuam na mesma inércia. No meu caso, chego a esse crescimento na marca dos 23.

Filho mais novo de três, jornalista recém-formado e pela primeira vez morando fora e do outro lado do mundo, acredito que chegou a hora do homem tomar lugar do guri. Pensando sobre o assunto em alguns momentos de ócio criativo, cheguei a conclusão que todo momento é um aprendizado e, em homenagem a tudo isso, registro aqui 23 lições que considero as mais relevantes (clichês a parte).

1) Não existe amor maior que o dos pais;
2) O melhor lugar do mundo é, e sempre vai ser, no conforto da nossa casa, cercado por quem te ama;
3) Tudo passa, tudo mesmo, principalmente o tempo. Logo, de nada adianta tentar apressá-lo;
4) Momentos ruins existem para tornar os bons melhores ainda;
5) Cuidado com o que você deseja, pois isso pode se tornar realidade;
6) Amigos são os irmãos que escolhemos em vida. Quanto mais melhor. Porém, sem deixar a qualidade de lado;
7) Fidelidade e sinceridade são os elos fortes de toda e qualquer relação;
8) O medo é o inimigo a ser batido e a coragem a arma a ser utilizada;
9) O amor é um demônio que ao mesmo tempo que lhe proporciona momentos inegualáveis, te passa uma rasteira e te deixa no chão. Mesmo assim, ame. Ame muito. Ame também a si próprio e serás amado pelo próximo (profundo isso);
10) Talvez um dos maiores problemas da vida seja que aprendemos errando. Mas também se não fossem os erros, não existiriam os acertos (óbvio, mas real);
11) Quanto maior o esforço, maior será a recompensa no final;
12) Acredite em almas gêmeas, elas existem. Nunca canse de procurar;
13) Nunca duvide do seu potencial, se você não confiar nele, dificilmente alguém confiará.
14) Nada pode ser melhor para renovar as energias do que um banho gelado, preferencialmente de mar. As ondas podem fazer milagres.
15) Para o baixo astral, sorrir é o melhor remédio.
16) Não julgue as aparências, dê valor para as essências;
17) Perdão é uma dádiva. Perdoe sempre. Mas nunca esqueça que quem te machucou uma vez pode te machucar outra e outra...
18) Definitivamente não deixe para depois o que pode fazer hoje, até porque amanhã aparecerá outra coisa e você não fará.
19) Homem previnido vale por dois, por isso, sempre tenha suas reserva;
20) Não esconda seus sentimentos, alguém pode estar procurando – e precisando – disso.
21) Na dúvida, faça. Nada pode ser pior do que se arrepender pelo que você não fez. Até porque, no fim, tudo é história para contar.
22) Não se apegue a bens materiais. Assim como eles vêm, eles vão;
23) Por fim, esteja pronto para aceitar as conseqüências do que achas que te faz melhor e assim seja feliz.

Wednesday, June 27, 2007

Mais um dia no Império do Mr. Apple

05-12-2006

“Puta merda, 4h30 da manhã, daqui a pouco o telefone desperta para o trabalho, que droga. Ainda tenho mais de uma hora para dormir, vamos lá”. Meia hora depois...”Ainda não tocou? Hum, ainda tenho mais um tempo para dormir, mas merda também, tenho que acordar para o trabalho.”

Seis horas da manhã, o telefone desperta: “Puta que pariu, está na hora de levantar. NÃO! Hoje eu não quero trabalhar. Vou dormir mais um pouco”. Oito minutos mais tarde, ele toca novamente. “Cacete! Vou ficar mais um pouco na cama. Ela está tão quentinha”.

Mais alguns minutos e não tem volta. “Vamos lá, vagabundo!” Grita o companheiro de quarto, de batalha e que há anos está junto. Sem alternativas, ele levanta e tenta pensar positivo para aumentar a motivação. “É hoje que a gente fica milionário”.

Passado o devaneio, veste a roupa, vai ao banheiro, água no rosto, pasta nos dentes e a face trabalhadora começa a tomar forma. Sanduíche para dar sustância ao corpo operário e a marmita está pronta. Mais alguns minutos esperando os outros companheiros e, em breve, a estrada é o caminho.

Nove quilometros, cinco minutos e ali está o portal de entrada para o império do Mr. Apple. Sete horas da manhã e o sol já surge soberano no céu de Hastings. Logo, uma proteção é indispensável. Devidamente bloqueado do astro rei, ali estão elas, em toda sua imensidade e quantidade.

O começo é difícil. Mesmo com o sol, o frio do amanhecer quase congela as mãos. Entretanto, a necessidade de conquistar o sustento de cada dia dá forças para os dedos seguirem arrancando as devidas maças das devidas árvores.

Enquanto as mãos fazem o trabalho incessante, o pensamento vai longe. Viaja mais de milhares de quilometros, volta para o Brasil, vai até em casa, passa por Porto Alegre, volta para a Ilha, e as mãos seguem trabalhando. Sobe escada, desce escada, e uma conversa descontraída com o companheiro se faz necessária. Logo, as três primeiras horas se vão e é chegada a hora do “break”. Água para hidratar, um sanduíche para sustentar e também chocolate para satisfazer o desejo. Nunca 15 minutos passaram tão rápidos e já era tempo de voltar aos afagos as macieiras.

Com o sol aumentando, a angústia também crescia. “Meu Deus, o que eu estou fazendo aqui? Não quero mais isso, vou voltar.” Mas o pensamento negativo é vencido pela certeza de que tudo vai valer a pena. Meio-dia e meio, era hora do “lunch time”. Mais uma parada para alimentar-se, agora com direito a um cochilo embaixo de uma árvore.

A tarde chega e o calor atinge seu ápse. Com o corpo cansado, tudo vai ficando mais lento. Sem falar no pensamento que insiste em voar até ela e ficar calculando probabilidades sem fim sobre o futuro. Mais uma conversa com o companheiro, planos, bobagens, risadas e sempre um filme sobre tudo já vivido passa frente àquelas folhas.

Último “break” para dar forças as derradeiras horas de trabalho. Sem dúvida as mais demoradas e as mais sofridas. Uma música ajuda o tempo a passar mais rápido e nos minutos finais cantar também ajuda a liberar as tensões.

Finalmente o relógio marca 17 horas. Duzentas e treze árvores percorridas, 10,650 “small apples” arrancadas (sem ressentimentos, outras 55 mil ficaram no pé), 1,278 degraus percorridos, corpo cansado e mais 100 doláres na conta.

Exaustos, a volta para a casa inicia silenciosa, mas sempre rolam algumas risadas para descontrair. Retornando ao lar, um banho é mais do que necessário para renovar as energias. Para aliviar a tensão, uma cerveja gelada seguida pelo brinde por mais um dia honesto de trabalho em nossas vidas. Cai o sol, olha uma tevê, cozinha, janta, mais um pouco de tevê e cama. Até porque no próximo dia são mais duzentas árvores para percorrer, 1278 degraus para subir...