Saturday, March 15, 2008

O poder de uma fila

Muitos dizem que brasileiros adoram uma fila. Não podem ver um aglomerado de pessoas alinhadas uma atrás de outra que entram, mesmo sem saber o real motivo. Mas a verdade é que, na maioria das vezes, fila representa empecilhos e aborrecimentos. Veja bem, na maioria das vezes, não significa sempre.

Então lá estava ele. Era começo de verão. Tinha retornado a pouco tempo e era a primeira vez que passava pela praia. E praia significa festa. Lá se foi junto com a fiel amiga. Apesar do horário não muito avançado, a fila já tomava grandes proporções. Com o passar do tempo o que era excitação pela expectativa de diversão, foi tomando ares de impaciência.

Enquanto esperava para entrar, cuidava em cada rosto que passava a procura dela. Nada tinham, mas o desejo de encontrá-la impulsionava a busca. E foi então, depois de quase desistir que surge no momento em que menos esperava. O sorriso que já o cativava no dia-a-dia, iluminava a noite que, para ele, já estava quase terminando. E foi assim, com algumas palavras rápidas na fila - que tanto o perturbava – que surgiu o fio de esperança. Seria ela?

A certeza veio horas depois. Novamente retomava a procura, sem sucesso. O tempo passava e a noite quase deixa espaço para o dia imperar, quando inesperadamente os olhares se cruzavam e os sorrisos indicavam o que viria. Tudo como deveria acontecer. Sem pressa, sem medo e sem forçar, perfeitamente ao natural. O que viria depois, era conseqüência, mas se não fosse a fila...

Wednesday, January 09, 2008

O que me faz pensar...

De Gabriel Garcia Marquez, prêmio Nobel de Literatura em 1982, na sua autobiografia Viver Para Contar de 2002:

"A vida não é a que a gente vive. A vida é a que a gente lembra, e como lembra para contar"

Thursday, October 25, 2007

Caminho até o fim

Organizados por peso, do mais pesado ao mais leve, eles iam um a um voado ao destino final. O que antecedera os instantes derradeiros da morte anunciada embasbacara e, por vezes, até divertia. Contudo, sempre com a certeza de que em algumas horas algo teria fim.

O despertar logo após os primeiros raios do Sol e a complacência junto ao lago de águas límpidas e transparente que circundava a região montanhosa. Um pouco de caminhada, subida até o alto de uma montanha e o tic-tac do relógio soava ecoante lembrado que a hora se aproximava.

Nem almoço teve. Primeira hora da tarde e a pesagem era realizada, sem uma finalidade clara, mas compreendida horas mais tarde. Duas baladas após o meio-dia e era chegado o momento de embarcar na condução que levaria até o local onde tudo aquilo teria fim. Éramos 21. Ingleses, holandeses, americanos, brasileiro, entre outras nacionalidades, cores e raças, todos com o mesmo destino.

No caminho, risos nervosos e as faces que não escondiam a apreensão frente ao inesperado. Era o medo que imperava naquele ônibus. No desembarque, o reconhecimento do local e a certeza de que não tinha mais volta. De cinco em cinco, íamos sendo arrastados até o local do crime. Já que não tinha mais volta, queria ser um dos primeiros a terminar com aquela apreensão, mas a minha massa corpórea não tão avantajada me deixou para o fim. Cada um que ia passando na minha frente transmitia a sensação que a escolha era certa.

Finalmente chegou o momento, pensava. Indumentaria pronta e lá estava na ponta dos pés, com uma geleira na barriga e pensando “eu não estou fazendo isso”. A contagem regressiva no fundo e os gritos de incentivo ajudaram a atirar-me precipício abaixo. Foram oito segundos de queda livre há 134 metros de altitude. Depois de ‘picar’ por três ou quatros vezes, fui recolhido. Entre aqueles dois morros, naquele 19 de maio, morria o meu medo de altura. Antes de voltar pensei, quero pular de Bungy Jump outra vez!

Monday, October 15, 2007

O que muda e o que não muda...

Fora de época é freqüentemente assim: vento, chuva e um frio que impede trajes mais típicos. Deixando os fenômenos climáticos de lado, um final de semana na praia sempre tem um valor imensurável. Era sábado e, depois da chuva, o vento soprava com vigor naquelas ruas que tantas lembranças remetiam.

Uma caminhada rápida e risadas ao lembrar da noite anterior. A sexta-feira, de feriado, tinha sido produtiva. Aquece aqui, aquece lá e a longa espera na fila quase estraga o que era para ser diversão. Mas o empurra-empurra e o teste de paciência não desanimaram e a festa foi boa. Melhor até que o previsto e a volta com o sol a pino teve o sorriso como marca.

Contudo, a disposição não era mais a mesma de outrora e a noite de sábado pedia programação light. Sem muitas opções, o final da caminhada era previsível: o mesmo bar de verões passados. O movimento era reduzido, claro, mau tempo e baixa temporada, mas as músicas praticamente as mesmas. Conversa vai, conversa vem, risadas, desabafos e claro, tudo regado a algumas cervejas. Mesmo imperceptível, era tudo como sempre foi.

Antes de voltar para a casa, a comprovação que o maior medo de antes de enfrentar o desafio do mundo novo era bobagem. Passado mais de um ano, lá estávamos nós filosofando sobre a vida e suas intempéries. O momento é outro, os caminhos diferentes, o amadurecimento transparece, mas uma amizade verdadeira é imutável. E nada melhor que um final de semana na praia para comprovar o que muda e o que não muda.

Tuesday, August 07, 2007

Um ano depois...

O sábado era mais ou menos como o mesmo de 364 dias atrás. A chuva caia com uma maior intensidade, é verdade, mas a intempérie era a mesma. Contudo, as semelhanças paravam por ali. Nunca o tempo havia passado tão rápido, e as mudanças tão visíveis.

Aquele 5 de agosto de 2006 havia sido, sem falsa modéstia, perfeito. Perfeito como talvez nenhum outro seja. Ansiedade, nervosismo, solenidade, comemoração, festas, abraços, bebidas, mulheres e por fim, o mais importante, o sentimento de esforço recompensado. O que veio depois daquilo é simples: aprendizado.

A conclusão de uma etapa e a transição para a nova foram repletas de novas lições. Com a mesma intensidade que o sentimento surgiu naquele mesmo dia, ele acabou e virou-se para o lado negro da força. O trabalho, que sempre fora de grande valor, foi deixado um pouco de lado, em busca do bem maior.

Um mês e seis dias depois da graduação, a vida tomava o rumo tão desejado e ao mesmo tempo inesperado. A mudança para o outro lado do mundo cumprira seu papel com rigor. Foram nove meses intensos. Estudos, viagens, trabalhos forçados, novas amizades e claro, aprendizado. Tudo exatamente como o imaginado.

Com a mesma ferocidade que o tempo passara até a partida, era chegada a hora da volta. A saudade e a distância transformam as pessoas. Muitas coisas mudaram no local em que havia deixado para traz, e onde sempre pertencera, mas aquele período apenas fortalecera o amor pela família, amigos e profissão.

Mais dois meses se passaram até aquele sábado. Pela manhã, um pouco de trabalho. Sim, só um pouco pois o mercado estava cada vez mais concorrido e a retomada às atividades era gradativa. Um futebol na tarde chuvosa até a chegada da noite e a comprovação: mesmo um ano depois da formatura, ainda sabemos comemorar e nos divertir como nos primórdios da faculdade. Bodas de papel para nós, jornalistas de 5 de agosto de 2006.

Friday, June 29, 2007

Crônica dos 23

07/01/2007

Tudo passa muito rápido. Sem perceber você está caminhando, falando as primeiras e tudo que importa são os doces e as brincadeiras inocentes de crianças. Mais um pouco e as brincadeiras começam a ganhar um pouco de seriedade e a personalidade começa a ser formada no colégio.

Bons tempos que inocentemente não percerbemos a importância. O único pensamento é libertar-se logo daquela “prisão”. E tão intenso, mais uma fase passa sem percebermos. E então que começam as grandes mudanças.

Com 17 ou 18 anos você é obrigado a escolher o caminho que deve seguir para o resto da vida. Mais quatro ou cinco anos de experiências imensuráveis que culmina com o momento único da graduação. Profissional formado e diplomado, e agora o que vem pela frente?

Já passei muito tempo esperando o momento de quebrar as correntes e declarar independência. Para alguns, o tão esperado amadurecimento vem aos 18. Existem outros que passam dos 30 e continuam na mesma inércia. No meu caso, chego a esse crescimento na marca dos 23.

Filho mais novo de três, jornalista recém-formado e pela primeira vez morando fora e do outro lado do mundo, acredito que chegou a hora do homem tomar lugar do guri. Pensando sobre o assunto em alguns momentos de ócio criativo, cheguei a conclusão que todo momento é um aprendizado e, em homenagem a tudo isso, registro aqui 23 lições que considero as mais relevantes (clichês a parte).

1) Não existe amor maior que o dos pais;
2) O melhor lugar do mundo é, e sempre vai ser, no conforto da nossa casa, cercado por quem te ama;
3) Tudo passa, tudo mesmo, principalmente o tempo. Logo, de nada adianta tentar apressá-lo;
4) Momentos ruins existem para tornar os bons melhores ainda;
5) Cuidado com o que você deseja, pois isso pode se tornar realidade;
6) Amigos são os irmãos que escolhemos em vida. Quanto mais melhor. Porém, sem deixar a qualidade de lado;
7) Fidelidade e sinceridade são os elos fortes de toda e qualquer relação;
8) O medo é o inimigo a ser batido e a coragem a arma a ser utilizada;
9) O amor é um demônio que ao mesmo tempo que lhe proporciona momentos inegualáveis, te passa uma rasteira e te deixa no chão. Mesmo assim, ame. Ame muito. Ame também a si próprio e serás amado pelo próximo (profundo isso);
10) Talvez um dos maiores problemas da vida seja que aprendemos errando. Mas também se não fossem os erros, não existiriam os acertos (óbvio, mas real);
11) Quanto maior o esforço, maior será a recompensa no final;
12) Acredite em almas gêmeas, elas existem. Nunca canse de procurar;
13) Nunca duvide do seu potencial, se você não confiar nele, dificilmente alguém confiará.
14) Nada pode ser melhor para renovar as energias do que um banho gelado, preferencialmente de mar. As ondas podem fazer milagres.
15) Para o baixo astral, sorrir é o melhor remédio.
16) Não julgue as aparências, dê valor para as essências;
17) Perdão é uma dádiva. Perdoe sempre. Mas nunca esqueça que quem te machucou uma vez pode te machucar outra e outra...
18) Definitivamente não deixe para depois o que pode fazer hoje, até porque amanhã aparecerá outra coisa e você não fará.
19) Homem previnido vale por dois, por isso, sempre tenha suas reserva;
20) Não esconda seus sentimentos, alguém pode estar procurando – e precisando – disso.
21) Na dúvida, faça. Nada pode ser pior do que se arrepender pelo que você não fez. Até porque, no fim, tudo é história para contar.
22) Não se apegue a bens materiais. Assim como eles vêm, eles vão;
23) Por fim, esteja pronto para aceitar as conseqüências do que achas que te faz melhor e assim seja feliz.

Wednesday, June 27, 2007

Mais um dia no Império do Mr. Apple

05-12-2006

“Puta merda, 4h30 da manhã, daqui a pouco o telefone desperta para o trabalho, que droga. Ainda tenho mais de uma hora para dormir, vamos lá”. Meia hora depois...”Ainda não tocou? Hum, ainda tenho mais um tempo para dormir, mas merda também, tenho que acordar para o trabalho.”

Seis horas da manhã, o telefone desperta: “Puta que pariu, está na hora de levantar. NÃO! Hoje eu não quero trabalhar. Vou dormir mais um pouco”. Oito minutos mais tarde, ele toca novamente. “Cacete! Vou ficar mais um pouco na cama. Ela está tão quentinha”.

Mais alguns minutos e não tem volta. “Vamos lá, vagabundo!” Grita o companheiro de quarto, de batalha e que há anos está junto. Sem alternativas, ele levanta e tenta pensar positivo para aumentar a motivação. “É hoje que a gente fica milionário”.

Passado o devaneio, veste a roupa, vai ao banheiro, água no rosto, pasta nos dentes e a face trabalhadora começa a tomar forma. Sanduíche para dar sustância ao corpo operário e a marmita está pronta. Mais alguns minutos esperando os outros companheiros e, em breve, a estrada é o caminho.

Nove quilometros, cinco minutos e ali está o portal de entrada para o império do Mr. Apple. Sete horas da manhã e o sol já surge soberano no céu de Hastings. Logo, uma proteção é indispensável. Devidamente bloqueado do astro rei, ali estão elas, em toda sua imensidade e quantidade.

O começo é difícil. Mesmo com o sol, o frio do amanhecer quase congela as mãos. Entretanto, a necessidade de conquistar o sustento de cada dia dá forças para os dedos seguirem arrancando as devidas maças das devidas árvores.

Enquanto as mãos fazem o trabalho incessante, o pensamento vai longe. Viaja mais de milhares de quilometros, volta para o Brasil, vai até em casa, passa por Porto Alegre, volta para a Ilha, e as mãos seguem trabalhando. Sobe escada, desce escada, e uma conversa descontraída com o companheiro se faz necessária. Logo, as três primeiras horas se vão e é chegada a hora do “break”. Água para hidratar, um sanduíche para sustentar e também chocolate para satisfazer o desejo. Nunca 15 minutos passaram tão rápidos e já era tempo de voltar aos afagos as macieiras.

Com o sol aumentando, a angústia também crescia. “Meu Deus, o que eu estou fazendo aqui? Não quero mais isso, vou voltar.” Mas o pensamento negativo é vencido pela certeza de que tudo vai valer a pena. Meio-dia e meio, era hora do “lunch time”. Mais uma parada para alimentar-se, agora com direito a um cochilo embaixo de uma árvore.

A tarde chega e o calor atinge seu ápse. Com o corpo cansado, tudo vai ficando mais lento. Sem falar no pensamento que insiste em voar até ela e ficar calculando probabilidades sem fim sobre o futuro. Mais uma conversa com o companheiro, planos, bobagens, risadas e sempre um filme sobre tudo já vivido passa frente àquelas folhas.

Último “break” para dar forças as derradeiras horas de trabalho. Sem dúvida as mais demoradas e as mais sofridas. Uma música ajuda o tempo a passar mais rápido e nos minutos finais cantar também ajuda a liberar as tensões.

Finalmente o relógio marca 17 horas. Duzentas e treze árvores percorridas, 10,650 “small apples” arrancadas (sem ressentimentos, outras 55 mil ficaram no pé), 1,278 degraus percorridos, corpo cansado e mais 100 doláres na conta.

Exaustos, a volta para a casa inicia silenciosa, mas sempre rolam algumas risadas para descontrair. Retornando ao lar, um banho é mais do que necessário para renovar as energias. Para aliviar a tensão, uma cerveja gelada seguida pelo brinde por mais um dia honesto de trabalho em nossas vidas. Cai o sol, olha uma tevê, cozinha, janta, mais um pouco de tevê e cama. Até porque no próximo dia são mais duzentas árvores para percorrer, 1278 degraus para subir...